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Crises são necessárias

Sempre aprendi muito com os ensinamentos dos meus ancestrais chineses. Um tempo atrás, meu avô me ensinou que os chineses consideram os períodos de crise uma oportunidade para crescimento.


Em mandarim, a palavra "crise" é composta por dois ideogramas: um significa PERIGO e o outro, OPORTUNIDADE.


Minha primeira crise existencial foi aos 17 anos, quando tive que escolher a opção da profissão no vestibular. Dentre tantos cursos, eu queria... Nenhum!


Meu desejo era simplesmente bordar e bordar. Costurar. E bordar de novo. Eu sonhava alto feito uma menina de 8 anos: "Mãe, porque não existe uma faculdade de bordado? Ou de Artesanato?" Eu realmente era muito feliz acompanhada por uma caixa de costura, e queria fazer daquilo minha profissão. Ser costureira ou artesã me fascinava. "Artesão é uma pessoa que faz arte com tesão" - ouvi essa frase em uma palestra, não me recordo o autor, e decidi que queria viver assim. Com entusiasmo pelo meu trabalho – e, consequentemente, pela vida.


Paralelo a esses questionamentos que me cercavam, eu ainda tinha outro “vilão” para me gerar dúvidas e colocar minhocas na cabeça: vim de uma família de médicos extremamente tradicional. Imagine como foi para eles ouvir que a filha quer ser uma “mera” artesã? E o espanto e decepção não era só da mãe e do pai, pois os médicos da família são apenas TODOS (tias, avô e por aí vai...)


E AGORA?


É difícil imaginar um futuro próspero nas profissões que são pouco valorizadas na nossa cultura. E esse, infelizmente, era meu caso. Talvez em um outro país o esquema fosse diferente. Mas eu tinha que ser realista.


Eu poderia escolher entre o caminho da segurança ou da paixão. E agora? Acredito que a maioria dos jovens enfrenta essa dúvida. E nós adultos também, em algum momento da vida, somos colocados à prova.



Queria viver e conviver com agulhas e linhas. E crianças. É claro que ninguém sobrevive fazendo ponto cruz, afinal é uma arte que leva horas para ficar pronta e é pouco valorizada. Não há dinheiro que pague. Tentei visualizar um futuro assim e me enxerguei tendo tendinites de tanto fazer os movimentos do bordado haha! Desisti.


Passei meses quebrando a cabeça tentando descobrir uma possível fonte de renda próspera e, ao mesmo tempo, alinhada aos meus talentos e propósito.

Se na vida adulta já é difícil chegar a essa conclusão, imagina aos 17 anos. Eu mal sabia o que queria da vida, haha. Mas, sabia bem o que não queria - e isso já ajuda muito.


Escolhi então cursar Artes Plásticas, pois na época não existiam cursos de moda em Porto Alegre. A faculdade de Artes era, portanto, o mais semelhante ao que eu almejava. Enfim, fui aprovada no vestibular e passei a me descobrir feliz também fazendo e conhecendo todas as áreas do curso: Desenho da Figura Humana, Pintura, Escultura, História da Arte... Paralelamente, resolvi fazer um curso técnico em Moda e Design.


Em tempo: levei três anos para passar no vestibular de Artes, não pela dificuldade do teste, mas por reprovar na prova específica de desenho. Contei sobre isso num outro post.


Até que resolvi juntar minha vontade de ensinar com a habilidade na máquina e comecei a lecionar aulas de costura para crianças na minha casa - esta foi a EstiLisot em fase embrionária!

No início não tinha nome. Apenas distribuí panfletos pela vizinhança dizendo "Aulas de Costura para Crianças" e fiz uma turminha fofa. Ali foi o início do Curso de Estilismo! Me recordo de acordar feliz e empolgada nos dias que eu tinha que dar aula. Era o melhor momento da semana porque era quando eu matava minha sede de ensinar a gurizada.


Foi aí então, que minha decisão a respeito de qual profissão escolher começou a ser de fato tomada. Concluí a faculdade de Artes certa de que eu queria ter uma Escola de Costura para Crianças. Obviamente que vieram enxurradas de frases negativas a respeito do meu sonho mas, depois de tanto eu acreditar no meu "novo empreendimento", todos passaram a sonhar junto comigo.


Lembro exatamente quando comecei a montar a EstiLisot: não tinha nem nome. Quem lembra na época que se chama "Atelier Elisa Lisot"? - sem logomarca nem nada. Eu tinha urgência em começar meu negócio e não podia depender de uma marca para dar o primeiro passo. Acredito que não se deve esperar pela perfeição para começar.


FEITO É MELHOR QUE PERFEITO


Então resolvi bater as asas e fui aperfeiçoando em pleno voo - e foi a melhor coisa que eu fiz!

Fui vendo, conforme o andar da carruagem, como era o dia a dia de uma escola e então, meu Atelier foi promovido de test drive para um negócio de verdade mesmo!

À medida que o ambiente ia ganhando cores nas paredes - que eu mesma pintei com a ajuda de amigas e da Piti, minha costureira de quatro patas - o entusiasmo com a vida que eu vislumbrava pela frente e a certeza de que eu tinha feito a escolha certa, se solidificavam cada vez mais.



DEPOIS QUE VOCÊ DECIDE, AS COISAS REALMENTE ENTRAM EM UM FLUXO E SE AJEITAM!


É até engraçado: quando a gente olha pra trás, mal acredita que "conseguiu"! Pois bem, e não é que o mundo dá voltas, e o que era "coisa de vó " naquela época, passou a se tornar uma profissão respeitada ou hobby muito praticado entre os jovens dos dias atuais!

Fico realizada ao ver que fazer Moda está na moda e que os jovens hoje buscam cada vez mais escolas para aprenderem a arte da costura. Acho isso incrível!


Portanto, trabalhar com o que se ama é lindo demais e o caminho a seguir! Me emociono ao ver o que construímos e ensinamos nestes 9 anos de EstiLisot Moda Escola! Já passaram por aqui mais de 1.500 alunos, sendo 30% crianças que, assim como eu um dia, desejavam saber COSTURAR!

E vamos combinar uma coisa? Se você tem um sonho, mas tem ̶m̶e̶d̶o̶ de segui-lo, risque essa palavra do seu vocabulário, pois ela atrapalha a concretização do seu objetivo, ok?

Ao invés de se preocupar com a crise, continue acreditando no seu talento e na sua criatividade.


Um beijo e vá em frente porque VAI DAR CERTO,

Elisa Lisot

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